Postada em 18/12/2024 às 14:28
Por Maria Helena da Bernarda
“Eu e o meu marido somos brasileiros, vivíamos em São Paulo e viemos há sete meses para Portugal. Ele tinha uma carreira consolidada na Banca, na área das Tecnologias de Informação.
Eu sou formada em Psicologia, mas tinha um tal gosto por Moda, que fiz uma formação posterior, já casada. Assim me converti em estilista, orientada essencialmente para vestidos de noiva. Abri um atelier e corria-nos bem a vida, apesar de alguns preconceitos que tivemos de enfrentar…
Um deles foi a nossa diferença de idade. Quando nos casámos eu tinha 30 anos e ele 21. Como explicar que nós não sentíamos essa diferença? A idade está no espírito e nós partilhávamos o mesmo. Prova disso é que passaram 15 anos e continuamos felizes e alinhados num projeto de vida dinâmico e construtivo.
O outro preconceito foi a minha manifesta vontade de não ter filhos. Como explicar que ter um filho não é mandar vir uma encomenda, um bem que nos pertence, mas um ser autónomo que devemos cuidar com imensa dedicação e competência? E que devo fazer, se não me sinto com a capacidade de ser a mãe que uma criança merece? Não posso ter um filho por mim, mas por ele próprio. É uma responsabilidade grande demais, que me oprime. Acho que se não tenho filhos, não é por egoísmo ou por não gostar de crianças, mas por gostar demais delas.
Tendo no Brasil uma vida confortável, decidimos mudar para viajar mais e poder conhecer outros países, outras culturas. Em 2022 tínhamos vindo de passeio a Portugal, França e Escócia. Mas a ligação a Portugal sobressaiu, e aqui nos quisemos fixar.
Descobrimos mais um preconceito quando nos organizámos para trazer os nossos dois cãezinhos, com todo o processo burocrático que isso envolveu. Seria preciso explicar que nunca viríamos sem eles, sendo que um já vive há 15 anos connosco e é como família?
Nesta altura trabalho num atelier em Campo de Ourique, chamado Amora Couture, onde criamos não só fatos de cerimónia, como fazemos modernização de peças antigas.
O meu nome - Lili Vieira - não é conhecido em Portugal e por isso ainda não fiz o meu primeiro fato de noiva. Acredito que ele surgirá e confio no poder do ‘passa a palavra’ para me afirmar neste país que amo!”