Postada em 26/12/2024 às 11:23
Por Maria Helena da Bernarda
“Há instituições que distribuem comida a pessoas sem abrigo. Eu faço o mesmo com a bicharada, porque as juntas de freguesia pouco ou nada fazem pelo animais sem abrigo.
Sou pedreiro, solteiro, sem filhos, e todo o meu rendimento é gasto para comprar comida para os gatos que andam nas ruas da minha zona da cidade. Comecei esta missão quando deixei de beber, há 20 anos. Todas as noites faço uma volta com seis paragens, uma em Chelas e as outras em Alvalade. Assim emprego melhor o dinheiro que gastava na bebida.
Para quem diz que não se deve dar comida aos gatos eu pergunto se têm consciência de que o desaparecimento de gatos ia levar ao aumento de ratazanas.
Ali na Marquesa de Alorna, houve uma altura em que correram com os gatos e eu próprio vi ratazanas a saírem pelos buracos das sanitas dos pisos inferiores. Agora já há lá seis gatos e as coisas estão mais controladas. Tudo deve ser visto com conta, peso e medida.
Sempre gostei muito de animais e os da rua são mais desprotegidos. Não é que eu não goste de pessoas. Ainda agora uma cliente minha teve uma bebé. Eu via-a ali com um barrigão, coitada… quando soube que teve uma menina, fiquei feliz. Enquanto ela está no hospital, fui lá a casa pintar-lhe uma marquise sem cobrar, para quando ela chegar a casa ver a surpresa.
Eu até gosto de pessoas, mas não tenho jeito para lhes falar.
Não só alimento os gatos como lhes fiz uma casa com mais de 1,80 m de altura. Tem vários quartos forrados com roofmate e mantinhas no chão, paredes e teto, para que eles não passem nem frio nem calor.
Algumas pessoas desapontam-me mas nunca os animais. Quando me aproximo dos locais de paragem, eles já estão à minha espera para comer. Não lhes posso falhar, muito menos no Natal. Então eles não têm de comer também neste dia?
Volta e meia compro-lhes frango ou pescada cozida, quando está mais barata. Eles adoram. Como é Natal, em vez da ração comprei-lhes frango assado. E como eu passo a noite com as minhas duas irmãs, já combinámos: vamos os três levar a ceia aos gatos, e depois vamos à missa do galo. Vou pedir paz, saúde e trabalho, para poder continuar a dar de comer à bicharada.”