Postada em 18/12/2024 às 14:32
Por Maria Helena da Bernarda
“Aos 67 anos, olho para a minha vida e dou graças a Deus por não encontrar momentos trágicos. Tenho uma ótima relação com a minha filha - ela tem 39 anos e ainda brincamos - e provo agora o doce sabor de ser avó: há poucos dias nasceu o meu primeiro neto e estou encantada de iniciar este novo capítulo da minha vida.
Fui professora no ensino secundário de Português e Francês, profissão que exerci sempre com muito brio e prazer. Optei pela reforma antecipada não por desencanto, mas por desgaste decorrente dos cargos de coordenação que assumi, a par da lecionação, ambos com entrega total, porque não sei ser de outra forma. Já não tinha vida própria, dormia menos de cinco horas por noite e o meu marido queixava-se, até mais do que eu. Mas, em momento algum desejei ter tido outra profissão. Desde logo porque gosto da riqueza das palavras, em particular da língua portuguesa. Lamento o pouco investimento que se faz na preservação da nossa língua que, como instrumento de comunicação, é essencial à compreensão dos outros e, diria até, à sensibilidade indispensável para desfrutar da beleza da vida. Sou uma panteísta, o que significa que tenho um conceito de Deus uno e universal, como se Deus fosse o próprio Universo e toda a vida nele contida.
Sempre procurei ensinar aos meus alunos que, apesar de todas as adversidades inatas à condição humana, a vida é sempre bela. Por outro lado, sempre me senti muito compensada com as mostras de afeto dos meus alunos. Os jovens emocionam-me e não esqueço os que passaram pela minha vida.
Tenho o meu escritório cheio de presentes que eles me davam e gosto de olhar, com ternura, as suas carinhas alinhadas nas folhas que guardo como relíquias. Durante bastante tempo, não era raro receber telefonemas de alunos que, após completarem o 12º ano, me ligavam para tomar café e relatar os seus novos feitos.
Do ensino não guardo más memórias, como de nada, aliás. Prefiro viver na busca incessante da beleza, que facilmente encontro num gesto de bondade, na natureza, na pintura, na leitura, na relação com a minha filha e agora com o meu neto, ou no valor fundamental da palavra Verdade."