Postada em 16/12/2024 às 17:23
Por Maria Helena da Bernarda
“Tenho quase 31 anos. Nasci a 24 de Dezembro, em São Tomé. Confesso que não gosto de fazer anos, nem do espírito natalício associado às prendas. Também era melhor não gostar, porque não as recebia (risos).
Quando eu tinha 6 anos, os meus pais vieram para Portugal, deixando-me a mim e ao meu irmão mais velho ao cuidado de uma tia: a tia Aldinha. Essa tia teve vários filhos, tomou conta de enteados e foi uma segunda mãe para nós, como era para muitas outras crianças familiares ou vizinhas. Ela vivia para se dar às crianças.
Quando os meus pais nos chamaram, um ano mais tarde, eu não queria vir; chorei baba e ranho por ter de deixar a tia Aldinha, por um tempo indefinido que poderia ser a eternidade. Eu já estava muito apegada a ela.
Cheguei a Portugal no ano 2000 com o meu irmão. Aqui os meus pais tiveram mais uma menina mas, mais tarde, o meu pai regressou a São Tomé. Não sei se posso dizer que o casamento deles ficou desfeito mas, na prática, estão separados e sem planos de se juntar.
Aqui sou vigilante de dia, na portaria de uma Câmara Municipal. Felizmente nunca tive de me defender em nenhuma situação complexa, já que a única formação que tive de autodefesa foram apenas 10 horas e já esqueci toda a teoria; e a teoria esquece quando não se pratica. No meu trabalho só preciso de ser amável e sorridente, e disso eu gosto.
Não tenho filhos porque ainda não encontrei o companheiro certo. Tenho de pensar bem em mim e nos filhos que possamos ter. Não exijo muito de um homem. Não precisa ser bonito, nem rico, nem africano, mas trabalhador, que goste de mim e eu dele. Agora existe alguém de quem me estou a aproximar, mas vou com calma, como deve ser.
Há um ano pus fim à saudade quando visitei São Tomé. Mal cheguei, pensava que iria logo a casa da minha tia. Isso só não aconteceu… porque ela me foi buscar ao aeroporto, juntamente com o meu pai. Passados 24 anos, achei que a ia encontrar só e velhinha. Nada disso! Estava ótima e continuava rodeada de crianças em casa. Saem umas, entram outras, pois o que ela gosta mesmo é de ter a casa sempre cheia.
Percebi, diante daquele cenário, que a viagem não foi apenas a São Tomé, mas também à minha infância.”